quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008


(13) Beija Flor I

--- Ele, suavemente sobe do corpo macio depois de saciado... O centro de mulher, delícia da boca faminta, beija – flor em rosa úmida de orvalho...
--- Ela se levanta e o submete suavemente aos seios túrgidos, enquanto beija-lhe o cabelo, descendo ao seu pescoço, o peito... Numa caída abrupta, desce a
língua sobre o membro colossal e em movimentos contínuos, devolve o prazer de segundos atrás, envolvendo – o de saliva tênue, numa súplica para que Ele a faça sua, sem limites...
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(82)-BEIJA FLOR II
Chove lá fora. Tenho medo do amor. Aqui dentro está tão triste – desejo ouvir tua voz. Mas é melhor assim.
Sou a última romântica, você meu Beija-Flor. Abriu seus braços e fizemos um universo, sinto-me grávida de teus desejos, sou pólen do Vergel do mundo, mas o amor é uma coisa que dói – você é uma criança, que eu adoro, e que nem todas alcançam, e sei que tentas me fazer feliz.
Momentos, humores, rumores inexplicáveis me atingem a alma, faz verter lágrimas dos meus olhos – o coração fica entregue á tristeza.
Acabrunhada, disfarço a emoção.
Pensamentos secretos fazem-me entender que o amor que sinto por ti é infinito, mas posto que é impossível, não há luz para o futuro.
Há um céu entre nós – separando, apartando nossos corpos. E antes que o sol se esconda, desejo te dá um beijo – o derradeiro...
Somos almas separadas, que no ocaso da vida se encontram, proibidas por todas as leis humanas, unidas por elos surrealistas da natureza.
Dou-te toda a Poesia, Tu és meu Beija-Flor.

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(12) Lá vem a Solidão

Abraço uma sensação de presença solitária em minha cama... Aperto meus olhos e vibro tentando perceber um carinho sensível; repito milhões de vezes à visualização dessa imagem procurando em minha memória a lembrança dessas turvas expressões. Corrói-me saber que não posso ser suficiente para te alcançar, sinto inveja dos que te têm tão pertinho e te vê em todos os teus cotidianos.
Vivo pelo desejo de te provocar sorrisos, gargalhadas, alegria... Dividir tristezas. Saber, viver, compartilhar teus sonhos... Delirar nossos sonhos. Nada de novo há em minhas palavras e me repito e repito o que temo... E tão pobre e frágil me sinto como a ilusão de que minha presença venha a tornar-se apenas um devaneio.
Insegurança... Escolher... Escolhas. Intimidade... Cumplicidade
Estendendo-se a todas as formas de expressão. Adivinhar-te com os olhos, te ler... Sentir-te a ponto de te saber mesmo distante... Quero que tua presença seja parte de mim. Quero-te em todo lugar, todo objeto de minha vida, para mirar em qualquer direção e te reconhecer em tudo.

(11) Manhã Chuvosa.

---Diazinho de chuva mansa com um friozinho que pede calor, não me dá nenhum trabalho te imaginar nua, sedenta e faminta, despudoradamente despida de todas as amarras e tabu, como se um personagem tomasse teu corpo e te deixasse ser uma mulher que imagino que tu sejas, mas que sufocas... (Ele sonha com a Senhora Solidão).
Permita-me, usar do ousado e do obsceno para te demonstrar que o tesão reside no desejo que exala do teu corpo... Que delícia! Revelando todo o esplendor da tua porção fêmea, me deixando louco de desejos..., Cheirar teu pescoço, beijar teus seios e essa boca gostosa, com um beijo molhado e devasso.
Que mulher era aquela empolgante e imprevisível, capaz de sugestões tão loucamente sensuais para deixá-lo agitado?
Nunca esqueceria aquele dia tão especial dentro de tantos outros, quando ela dissera:
- Meu amor, amorzinho, deixe-me ser sua escrava, apenas cumprirei querido o que você mandar.
Tomou-me de surpresa... Aquelas palavras. Ela se revelava sem inibições.
Beijei-lhe a boca maravilhosa, traçando com a língua, os lábios carnudos, como se estivesse desenhando-os - lembro que permanecestes paradas, os olhos semicerrados, a boca fechada numa muda prece para que te beijasse os seios.Rendi essa homenagem e encaixei delicadamente em cada mão um seio, e beijei-os, cercando os bicos com a língua até vê-los endurecer – passando a língua de um para outro, ora chupando, ora enfiando o nariz, ora mordendo-os delicadamente com os dentes, ora abrindo a boca ao máximo para engolir o seio o mais que podia –deixando-os eriçados e úmidos.
Coloquei as minhas grandes mãos embaixo de tuas coxas e num cerimonial lento fui descendo, beijando toda a extensão de teu corpo carnudo, enquanto você se perdia em gemidos, e parei no centro de prazer, quando colocastes as mãos num gesto de proibição, eu aceso pelo tesão, não vacilei, consegui espaço entre teus dedos e ali coloquei minha ávida língua, segurando teus pulsos com vigor e colocando tuas mãos ao redor do corpo, ficastes silenciosa, numa muda aceitação de vencida, e tracei e retracei a reentrância profunda entre os lábios exteriores e interiores, dobradinhos secretamente, como se aguardassem sempre esse carinho íntimo – foi quando você , de repente, loucamente e em gemidos iniciou movimentos impulsivos para minha boca – como enlouquecida de prazer, como se a súplica , agora, fosse para tomar todo seu sexo úmido e latente em fogo, e eu cuidando para te devorar, cada vez mais num ritmo frenético, procurei teu clitóris ...E ao sentir esse pequeno paraíso de carne, ficou tão excitado, que meu membro, tão duro, que estava quase na horizontal, e a tal ponto a fricção nos lençóis foi tão intensa que quando me dei conta estava ejaculando... E sentindo as contrações de teus músculos e teus gemidos.
Adormeci ouvindo tua voz dizendo: - Não vá embora, vou ao banheiro, volto num segundo.
Entretanto, quando despertei você não mais estava no quarto...
E me senti num deserto... Era um deserto monótono e silencioso.
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(10) Ritual de um desejo.

---, Sexta-feira de tons cinza, tristeza na alma, Ela sente-se assim. Verdade tão singular que será incapaz de contar a alguém – gostaria de ser eterna e plena, anseia pela liberdade, selvagem e única, que transgride o cotidiano, de desejar sem ser satisfeita, ter que calar, senão apedreja, este é mundo de homens lobos. Onde objeto do amor sensual, desejado, move seu pensamento desesperadamente, em tentativa de criar um espaço dentro de dimensões ilimitadas e abstratas –num processo de sensualidade, numa fragilidade de emoções, própria de quem ama – forma de libertar das amarras - vitória dos sentimentos mais íntimos - que um ser possa sentir por outro.
Chama, clama o amado para escrever em seu corpo, a linguagem e a urgência do desejo, novamente tê-lo, loucamente, um prazer mútuo alcançar, obedecendo, num ritual carinhoso ao olhar devorador. Será tudo que importa...
Que o mundo perceba, não importa, o corpo de fêmea enlouquecida de tesão, eternizando em gemidos, um momento único de entrega total, semelhante ao acontecido numa manhã chuvosa...
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(8) Olá Senhora Solidão.

Que bom perceber que você está tão interessada em mim, mesmo que pareça estranho, tenho a impressão de te conhecer a décadas e percebo-a pertinho de mim, dizendo tudo que apenas vejo escrito, como se “Drummond” prevendo nosso encontro eternizou nos seus magníficos versos “sinto-a aconchegada, tão apegada em meus braços...”
És de fato, para mim, uma ausência assimilada e com certeza ninguém te roubará de mim?
Adoro quando mandas um cheiro e percebo o quanto és carinhosa, e senti um “sentir gostoso” quando pela primeira vez pronunciastes meu nome...
O que houve? Seu superego (esse nosso guardião social) estava adormecido? Ou será que estamos relaxando?Digo, nos dando a conhecer?
Anseio pelos momentos junto a ti...
Mas falando em conhecer, você quer uma radiografia de mim, e eu te confesso que ainda estou me acostumando com a idéia.
Posso pensar um pouco? Há questões difíceis de serem respondidas. Tenho te procurado muito em toda a cidade, mas não tenho sido bem sucedido. O que houve?Estais se escondendo de mim? Olho tantas vezes para aquele número de telefone, e me falta à coragem de discá-lo, um temor me assalta, talvez seja receio de destruir essa magia misteriosa que existe entre nós.
Gostaria de te dizer uma porção de coisas minhas, super pessoais, mas não acho coragem, tenho medo, não sei exatamente de que...
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(7) Segundo Monólogo da Senhora Solidão.

Sabes que senti falta de teu telefonema, ouvir tua voz? ─È verdade, acho que você me acostuma mal ou talvez... Esteja muito carente hoje, necessitando de um amigo para conversar...
A vida ensinou-me que é preciso ter paciência, as melhores coisas, ainda acontecem quando menos esperamos como você, ensinou-me também a não chorar, porque como as nuvens do céu, a vida é efêmera, os acontecimentos bons terminam, passam como as brisas marítimas, entretanto, aprendi que devemos sorrir porque aconteceu!
É prazeroso saber que posso fechar os olhos e viajar nas minhas fantasias, brincar de poesia fazendo amor e de conta que você sempre estará lá... Em um lugarzinho especial, em que o mundo todo seja sempre um segredo - nosso segredo - você que entrou na minha vida de uma maneira tão singular, uma presença ausente no meu cotidiano (como escreveu o poeta maior – Drumonnd).
Interessante... Outrora éramos tão ausentes, desconhecidos, mas o destino, sem explicação, quis que nós nos encontrássemos... E penso até na possibilidade, de que já nos conhecíamos, mas você era tão “comum” como tantos outros do dia a dia da vida, e posto que não me tivesse sido dada à oportunidade de conhecer teu íntimo... E pouco a pouco vamos descobrindo, e tantas coisas em comum, como somos parecidos! E na unidade dos contrários nos somamos um ao outro.
Desculpe querido, se estou sendo pegajosa, enfadonha, mas é insaciável minha vontade de estar sempre com você... Mesmo de uma forma surrealista... Eu não sei explicar, sei apenas que você me faz bem, me sinto leve, tele transportada para lugares distantes, lindos, vergel, quase irreal, onde não existe dor, tudo é sinceridade... Espontaneidade, não há lugar para luta por poder, dinheiro, apenas sentimentos... Lugar onde me esqueço de tudo e não consigo ficar triste... A alegria e a paz se fazem tão intensas...
Será que te assusto? E o que me sufoca tanto o coração? Será que posso Ter a iniciativa de te telefonar, quando a saudade se fizer insuportável? Estarei sendo apenas uma fase romântica em tua vida? Teu interesse é apenas no nível físico?
Essa tristeza que me maltrata por não saber de tua vida, de te tocar, tantas perguntas sem resposta... Provoca em mim um desejo louco de fugir, desaparecer...
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(6) Monólogo da Senhora Solidão

Foi numa noite de primavera, não foi?─Perguntou Senhora Solidão ao Senhor Desejo.
O ar da noite estava agradável, entretanto não conseguia dormir... Descansar o coração, acalmar o desejo e imaginou-se sozinha na praia iluminada pela lua cheia, com seus cabelos desalinhados pelo vento...
Não se lembrava quando estivera sozinha consigo mesma, talvez nunca.
Sempre era ela com outros - e que não conseguia ser ela mesma, porque os outros se refletiam nela, o que a impedia de ser pura e neste mundo pouquíssimas eram as coisas puras e verdadeiras.

E coberta de silêncio, caminhava em seus sonhos, acariciou os seios lembrando dos lábios e do carinho das mãos do Senhor Desejo e ao mesmo tempo sentindo a decepção provocada pela mudez dele... a não resistência, não a amava tanto... A ponto de não questionar “o adeus”.

Coração torcido e doído de paixão estava assustada, quis se esforçar a entender o porquê de desejar tanto aquele homem. E ele, estaria perdido do resto da humanidade, como ela estaria?
Perto de outro coração selvagem... A vida a teria levado, ele era Leão, e a magia essencial da vida, onde teria se escondido? Nunca mais seria a mesma pessoa e o devaneio de ouvi-lo cantando sussurrando ao seu ouvido, enquanto teria seu corpo colado ao dela numa longa dança... Realizaria? Estava pensando, brincando de viver.
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(5) SONHOS

Naquela noite, sonhara que estaria esvoaçante naquela imensidão de relva fresca, úmida de orvalho, sensação de liberdade, enrolara-se naquela fertilidade de cores e aromas, umidade verde que a deixava embriagada, nenhum pensamento, apenas movimento. Alguém se aproxima e ela sente o beijo, olhos fechados, cabelos ao vento, enxugavam-se de prazer, ria baixinho como a temer que se acabasse aquela volúpia... Ri da própria alegria e da embriaguez, busca o olhar e a boca do Senhor Desejo, enroscada a seu corpo quente, alisa seus braços, corpo sobre o mesmo tesão, mergulhando surdamente naquele ciclone de sensações, com vontade de morder estrelas (*...). Tão perfeito o momento, certeza de lembrar para sempre.
(Estaria enganada? E aquela sensação de saciez?... A lembrança dos gemidos de prazer, o orgasmo selvagem...) Agarrara-se violentamente nele, suas pernas escancaradas e os movimentos rítmicos de reação de suas nádegas...
As entranhas pulsando... Soluçara profundamente arqueando as costas até seus seios serem tomados e sugados vigorosamente, quando aproximou sua boca da dele e deu-lhe uma violenta mordida nos lábios... Teria sido tudo apenas um sonho?
Percebeu que ainda existia a Terra, o seu corpo ainda dispersava no ar... Centro de mulher úmido – provas de um mundo físico, mas ainda era ser simplesmente feminino-essencial-ternura.
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(4) Desejo, doce obsessão.

Silêncio total...
Escuro total...
Deitada sem o menor sono, rosto escondido sob o macio travesseiro, tentando esquecer do que me angustia, sei que esperar o dia amanhecer não vai resolver minha aflição.
Resvalo na cama, lembrando dos seus toques e de sua voz sensual, agita-me e lágrimas umedecem os lençóis, abafo os soluços, com receio de despertar meu companheiro, sinto um pesar de morte sobre o coração ao ter saudades e desejos de outro, amor de amada-amante.
Sinto-me dividida entre o porto seguro e o além-mar, assim está meu coração de mulher, há tempos, mas amar o mar não é traição!...É tão humano!
Mas como saberei o quanto seria maravilhoso, muito... Muito mais, ter prazer com medo das horas?
Dúvida cruel...
Já sentindo a dor de nunca descobrir o que há além do horizonte... E perdida qual um barquinho à deriva em alto mar com seu silêncio...

...



Secreta



(3) SECRETA...

O tempo invisível - este absorve insensivelmente cada átomo. É processo lento, quase silencioso - fugidio.
Serei a mesma daqui a pouco?
Há tanta paixão e desejo nas linhas que ora escrevo, tanto quanto na pele minha. Gosto de narrar através de
códigos secretos - assim me resguardo (...) de não descobrirem meus números secretos que contam os nomes dos homens a quem eu amei intensamente.São letras A, F...G, H,J, R... cores da tesão.
Pelejo nessa narração as lembranças. É numa liturgia vagarosa e terna - zelosa para que ninguém se assombre com pesadelos de desejar faminto de loba.

Alguém me contou que a hóstia tem o poder de encher a boca de cheiro sagrado. Ocorreu-me que devo ter gosto de pecado...
Anuncio ao mundo que me banho com rosas vermelhas e assim transformo a dor em prazer e não me importo se me chamam de louca. Prefiro ser dama da
noite devorando lua cheia do que ser
Estéril - incipiência poética. Sei o que estou escrevendo pode ser terrivelmente difícil para muitos
compreender. Entretanto...
Há sonho-fantasia de que alguém saiba que minha paixão será sempre comparável à imensidão do mar de
Tambaú.


(1) Senhor Desejo, Senhora Solidão.

Alguém com o coração semelhante ao meu ouvirá um dia o que tenho a contar? Ouvirá a minha história? Não quero compaixão. Quero emoção de quem me escutar, pois a piedade se destina aos fracos e eu ainda sou forte na minha tristeza. Desde a infância, um perfil de homem me acompanha, será anjo? Ou será demônio? Será minha alma gêmea? Silencioso e sorridente ele sempre é presença em meus sonhos, e no passar da vida, vem se intensificando os momentos da não presença. Quando fecho os olhos e o sono me possui, sinto o toque de sua mão nos meus cabelos, ouço-lhe a voz grave - morna e compassada a sussurrar nos meus ouvidos: “dorme minha eterna menina, descansa este coração de leoa, não temas... Sou teu companheiro, pareço ser fluídico, mas sou presente, não penses que a tessitura de teus sonhos foi quem me materializou, sou real... e amo-te. Se quando o dia chega com seu burburinho sufocante e eu desapareço é para que quando caírem às estrelas eu aparecer, e tu, minha menina adormecida, sintas o meu toque nos teus lábios displicentemente abandonados”.

Quantas infinitas vezes a pensar que serei louca, contendo-me em sozinha com meu Eu, acovardo-me em partilhar este segredo com outro vivente... Temerosa de que tudo seja fantasma da solidão, um fantasma companheiro para meu espírito? Pois eu terei perdido a minha sanidade e mergulhado nas profundezas do mar azul, num mundo de neblinas e vultos?...Meu Deus, esta descoberta tem me levado para estados de tristezas, somente neutralizada quando me misturo à exuberância da natureza. Todos os entardeceres a mim parecem sepulcrais, de belo nada têm e recordam-me perdas, muitas perdas de amor. Essa tristeza a quem responsabilizo pela destinação? Pode alguém me responder? Tu que mais próximo estás de mim... Suplico que sejas meu confidente e quem sabes até meu cúmplice?

O que posso te revelar é que desde a mais tenra idade a presença desse fantasmagórico companheiro em meus sonhos é constante... E me segue invisível no cotidiano.
Perdoa-me tu que me lês, e peço-te, neste momento, que me escute com o coração. Será que te assusto? Saberei ser grata a ti por permitir que eu deposite minhas tristezas, melancolias e sentimentos de incertezas. Sou pensadora que está em constante indagação sobre meu íntimo – percebes que sou mais emoção do que razão? Coloco em um “cantinho de esquecimento” o que para mim não tem valor sentimental – palavras desprovidas de essência poética. Serei uma mulher lírica?
As estações passam como momentos sempre tão diferentes e únicos. É nesses instantes que sonho em encantar-me com o néctar das flores ou dos orvalhos, assim estaria sempre forte para suportar este desejo tão solitário e que tanto me atormenta.
Fala-me, querido amigo, o que achas de tudo que te revelei?...Ou a minha vida será uma casa em cujo interior nenhum olhar se atreveu a invadir?
De tempos em tempos procuro espantar os fantasmas numa tensão axial própria do ser humano, meus sonhos serão utopias? Na verdade pouco importa para mim essa resposta. Gosto de ser (um ser) utópico - projetar sonhos e nunca desistir de ser uma sonhadora. Sonhar dá cores à Vida...

...
(2) Senhor Desejo, Senhora Solidão... (II)

Eis que te encontro na vida real, e chegastes tão sutilmente. Foi lindo. Tento fotografar nas linhas teu perfume. Tanto amor dentro de mim deixa-me aflita e arranha como se garra tivesse; escrevo-te em forma de fac-símile enquanto fôlego eu tenho, pois me acostumei a falar por escrito, eu que quase não sei falar e quem a audiência do mundo me vê com explícita erótica.
Impotente não consigo mostrar a Canção de Abismo (...) que hiberna dentro do coração selvagem. Corro o risco de antes do dia da morte chegar não conseguir experimentar o delicado da Vida.
Compreendo que neste mundo nada me faz te esquecer, por mais inacessível – que sejas. É febre que invadiu meu corpo e virou paixão e se transformou numa armadura da alma. Entretanto, Senhor Desejo, sou a mesma Senhora Solidão.
Talvez o grande erro seja eu não aceitar que te ame menos e que entenda melhor sobre o cotidiano dos homens. Tão limitada a minha liberdade! Como te dar um pouco de mim? Faço poemas para ti – essa foi à maneira de meu coração de mulher adentrar nos teus pensamentos ou quem sabe ter o prêmio de ser uma pessoa inesquecível em tua vida?
Gostaria tanto de desvendar se teu desejo tem limites ou se quando me tiveres o corpo - ficarás satisfeito ou passarás a querer-me mais e mais...
Somos dois seres que têm desejos fantásticos e fantasias quase inconcebíveis pela sociedade hipócrita – e, de certo modo entreguei-me a Ti, Senhor Desejo, tão depressa do que a qualquer outro homem que tenha passado no meu cotidiano. Capricho do destino...

Lembras? Viajastes dentro de mim, enxugastes a lágrima invisível do desengano, arrepiastes os pelos da pele de Loba – até senti uma dorzinha - porque a felicidade dói. Hoje, quando a saudade chega é quase insuportável o peso da inspiração de te escrever poética.

Voltei à rotina, mas teus gestos de carinhos e tua voz terna chamando-me de menina ou de princesa ficaram gravados como uma tatuagem eterna na minha imaginação – onde adormece a poética e a erótica. Elas são irmãs gêmeas siamesas, e, uma não existe sem a outra. Constatei que fostes tu, Senhor Desejo, o único homem a quem me mostrei nua em emoção – descobristes segredos meus que nem Eu mesma sabia. Segredos tão bem guardados. Pensei e falei livremente sem que me interrompesses - ou tirasses conclusões egoístas sobre quem sou realmente?
Muitos homens tentaram usufruir da exclusiva solidão minha de cada dia – tônica da vida real. São caçadores de mim, amantes egoístas e vaidosos. Seu hobbie se resume em colecionar em lindas galerias - suas conquistas femininas. Lindos troféus. Porém, esses homens, eu consigo deletar da minha vida sem qualquer dificuldade, são como chuvas de verão. São passageiros e aventureiros...
Nem todos têm a sabedoria e a vontade de dar algo sem esperar ansiosamente por algo em troca.

E se me escutas neste instante e sentes meu perfume, permita-me entrar através da janela de tua alma e enroscar-me e sentar em teu colo, sussurrar ao teu ouvido, beijar suavemente tua boca... E assim embalar-me em teu carinho até saciar essa solidão Fera.
(“...)” Canção de “Abismo”: Título do Livro do paraibano Escritor e Jornalista Ricardo Anísio.
...

QUEM ÉS TU?
Senhor Desejo busca respostas e procura indagar a Senhora Solidão:
─Quem és tu? Que fizestes comigo? Não paro de pensar em ti.

Por que agora te parece tarde se o cedo para nós é apenas uma

inspiração poética? Será justo transformar essa atração entre

nós em um sentimento natimorto? Insensatez, pecado, leviandade

são apenas adjetivos cujo poder depende tão somente de nossa concessão.
-Não, não me proponham lenitivo algum, e muita menos a indiferença

esse cruel sentimento de antiamor. Imaginar-te neste instante, absorvida

por tarefas domésticas e obrigações matrimoniais, não anulam meu tesão,

faz meu coração bater mais rápido e tudo isso faz aumentar meu desejo

por ti. Lembras como tudo aconteceu tão desastradamente? Com alegria

e riso, havia algo de irônico... Era o destino reencontrando almas, numa

ação definitiva e surpreendente, suave e linda, doce, simples e completa.

Como devemos deixar que tudo aconteça no cotidiano. Imagino-te, minha

doce Senhora, carente, solitária ao redor de muita gente, anos de

experiência, palavras calculadas e a excitação do momento terno e eterno,

meus olhos perscrutando os teus segredos e a vontade louca de sentir

teu cheiro, tua feminilidade, tão intensa e envolvente.
Se nossas palavras são verdadeiras, não as condene a dor do silêncio,

se nossos corpos não são livres, não aprisione nossos sentimentos.

Vamos viver esse desejo em segredo - será nosso segredo.

Fátima Pessoa